
O que nos diz a recuperação em V dos mercados?
“Relief Rally” – Recuperação sustentável ou apenas um alívio temporário?
Na abertura de maio, assistimos a um início positivo em praticamente todas as classes de ativos, dando continuidade ao ímpeto do final de abril. Este comportamento reflete um renovado apetite pelo risco, muito associado ao acalmar das tensões comerciais que tanto preocuparam os investidores nas semanas anteriores.

O que estamos a testemunhar é uma recuperação em formato “V” nos mercados, um padrão que surge após termos atingido níveis recorde de pessimismo entre os investidores. Durante esta queda, foi tentador correr para a saída e vender os investimentos, no entanto, reforçamos à altura, junto dos nossos clientes, para não o fazer. A história mostra-nos que esta raramente é a melhor estratégia.
A verdade é que os melhores dias do mercado tendem a seguir-se muito de perto aos piores. Os investidores que mantêm o rumo acabam, geralmente, por obter resultados significativamente melhores a longo prazo. Quem sai do mercado nos momentos de turbulência arrisca-se a perder os dias de maior valorização – e são precisamente estes dias que mais contribuem para os retornos a longo prazo.
Numa perspetiva histórica, desde 1950 registaram-se 12 bear markets, o que representa uma média de um mercado bear a cada 6 anos. Isto faz sentido do ponto de vista macroeconómico, já que a maioria destes períodos negativos são causados por ou antecipam recessões, seguindo assim o ciclo económico natural.

É interessante notar que os dois últimos episódios negativos aconteceram invulgarmente próximos: em 2020, com uma queda de 35%, e em 2022, com um recuo de 27%. Ambos foram casos particulares, não originados pelo ciclo económico tradicional, mas “induzidos” por fatores externos. O bear market de 2020 foi especialmente abrupto, atingindo o seu ponto mais baixo em apenas 33 dias – uma queda praticamente vertical (parabolic drop).
A história também nos ensina que quanto mais abrupta é a queda, mais forte tende a ser a recuperação – como uma bola de borracha que ressalta com maior força quanto mais violentamente é atirada ao chão. Foi exatamente o que aconteceu em 2020: o mercado caiu abruptamente, mas recuperou com tal velocidade que terminou o ano com ganhos de 18%, registando nesse ano uma subida de 70% desde o ponto mais baixo.
O recente “relief rally” deixa-nos uma questão: estamos perante um impulso temporário motivado por eventos específicos ou é o sinal de uma viragem mais sustentável?
O mercado reagiu como se fosse apenas uma resposta a um evento pontual – guerra comercial – mas, a verdade é que as economias continuam particularmente vulneráveis a choques, muito dependentes de liquidez e com níveis de dívida soberana historicamente elevados. Apesar desta recuperação dos mercados, o ciclo do excepcionalíssimo norte-americano parece ter-se esgotado no curto prazo.
No panorama geral, segundo a nossa equipa de especialistas, estamos a testemunhar uma verdadeira desagregação, uma transformação estrutural cujo desfecho é quase impossível de antecipar, especialmente quando as mudanças políticas de Washington intensificam uma mudança global já em curso. Por isso, deixamos para trás a extrapolação de velhas tendências e a confiança cega em pressupostos do antigamente.