
Certificados de Aforro: uma solução segura ou uma falsa segurança?
Toda a gente sabe que o Certificado de Aforro é um dos mais populares instrumentos de poupança em Portugal, por serem associadas à estabilidade e segurança financeira.
Mas, por que razão os portugueses gostam tanto desta opção… e será um erro? É isso que vamos descobrir.

O crescimento que ninguém estava à espera
Ainda agora o ano começou e os Certificados de Aforro (CA) já são um dos produtos financeiros mais procurados segundo os últimos dados partilhados pelo Banco de Portugal. O primeiro mês do ano foi um mês de recordes com mais de 35 mil milhões de euros investidos neste instrumento, o que se traduziu num crescimento de 3,2% face a janeiro de 2024, segundo a Lusa.
Este crescimento inesperado da procura dos Certificados de Aforro justifica-se pela recente evolução das taxas de juro, pois até há bem pouco tempo estes estavam meio esquecidos. Em 2023, enquanto as taxas dos depósitos a prazo se encontravam em crescimento, o governo decidiu reduzir a remuneração máxima dos CA para o 2,5%, o que resultou numa estagnação de interesse. Ora, desde que estas taxas de juro bancárias começaram a decrescer, os portugueses optaram por apostar novamente neste tipo de investimento que manteve a sua remuneração estável nos últimos dois anos. Mas surge a questão: será esta a melhor opção para investir as nossas poupanças?

Segurança ou uma falsa segurança?
Aos olhos de alguns investidores, os Certificados de Aforro são um dos instrumentos financeiros mais fiáveis para ter as suas poupanças. Este instrumento, sendo um produto de capital garantido pelo Estado, acaba por criar mais confiança no sentido pessimista de “não vou perder dinheiro”, mas, por outro lado, pode limitar o potencial de rentabilidade, já que a segurança vem acompanhada de taxas de juro mais baixas e uma menor flexibilidade de investimento.
As desvantagens incluem uma taxa de juro variável, que pode diminuir se a Euribor cair; o limite máximo de investimento é de 100 000 euros, e os juros estão sujeitos a uma tributação de 28%. Comparados com alternativas como os PPR, os Certificados de Aforro podem ser menos competitivos, especialmente devido ao limite atual de 2,5% de taxa de juro.
Em contraste, os PPR’s oferecem uma rentabilidade potencialmente superior, beneficiando de uma maior flexibilidade de investimento e uma tributação mais vantajosa após 8 anos (apenas 8%). Além disso, o PPR é uma solução pensada para o longo prazo, o que permite não só construir um capital significativo para a reforma, mas também tirar proveito de vantagens fiscais no início e no fim do investimento. Rentabilidades passadas não são garantias de rentabilidades futuras, é verdade, mas quando o objetivo é construir uma poupança a longo prazo devemos considerar soluções menos conservadoras.

Caso prático – O Manel Conservador e o António Positivo
Imaginemos o Manel, que é mais conservador e escolheu, em janeiro de 2025, investir os seus 1.500€ num Certificado de Aforro, com uma taxa de juro de 2,5% ao ano. Ao fim de um mês, ele terá um retorno de 3,75€, resultando num total de 1 503,75€. Se mantiver o investimento durante um ano, o seu retorno bruto será de aproximadamente 37,50€, totalizando 1.537,50€. A vantagem do Manel é a segurança: o capital é garantido pelo Estado, o que significa menos riscos, mas também uma rentabilidade mais modesta.
Por outro lado, o António, mais positivo e disposto a assumir um pouco mais de risco, decidiu investir os mesmos 1 500€ no seu PPR Golden SGF ETF (Classe B), que registou uma rentabilidade de 2,30% no mês de janeiro de 2025. Após um mês, o António verá o seu investimento crescer 34,50€, totalizando 1 534,50€. Para efeito de comparação, o que o Manel ganharia num ano com o Certificado de Aforro, o António conseguiu em apenas um mês com o seu PPR.
Embora o PPR ofereça uma rentabilidade superior à do Certificado de Aforro, ele também envolve mais volatilidade e risco. Contudo, para quem pensa a longo prazo, o PPR pode ser uma solução mais vantajosa, desde que esteja disposto a assumir essas variações.
Conclusão
Muitas vezes, cometemos o erro de encarar as poupanças como algo para ser utilizado a curto prazo, quando, na verdade, essa função cabe ao fundo de emergência. As poupanças devem ser vistas como um projeto de médio/longo prazo, pensado para garantir segurança financeira no futuro.
A sensação de segurança que os Certificados de Aforro proporcionam pode ser tentadora, pois dão a impressão de que “não vamos perder dinheiro”. No entanto, essa segurança tem um custo: uma rentabilidade reduzida, que pode não compensar no longo prazo, especialmente em períodos de baixas taxas de juro. O receio da volatilidade e o desconhecimento de outras alternativas muitas vezes travam decisões mais vantajosas, mas é importante perceber que, ao longo do tempo, o risco tende a diluir-se e pode traduzir-se em retornos mais motivadores.
Antes de escolher onde investir, analise a sua situação financeira e os seus objetivos. Existem alternativas como os PPRs, que oferecem opções mais rentáveis e com benefícios fiscais, adaptando-se a diferentes perfis. Pense na poupança como um compromisso de futuro e deixe o seu dinheiro trabalhar para si.